domingo, 20 de maio de 2012

Histórico, as primeiras manifestações sobre gênero.

      O termo gênero começou a ser utilizado por teóricas (os) e estudiosas (os) de mulheres e do feminismo, no final da década de 70. Naquele momento, o movimento feminista ressurgia com força em todo o mundo, provavelmente por influência da onda revolucionária que percorrera a Europa, a China, a América Latina e EUA, no final da década de 60, com os grandes movimentos estudantis e a contestação dos papéis e comportamentos sexuais. Betty Friedan, uma das primeiras lideranças internacionais do movimento, defende o papel do trabalho criador para que a mulher, assim como o homem, possa encontrar-se e reconhecer-se como ser humano. A antropóloga americana Margareth Mead destaca o peso da cultura na determinação dos papéis sexuais e das condutas e comportamentos de homens e mulheres.
A partir daí, torna-se necessário um aprofundamento conceitual no tratamento dessas questões. Surge, então, o conceito de gênero formulado por pesquisadoras de língua inglesa, como Joan Scott e Gayle Rubin. No Brasil esta nova conceituação foi incorporada pela comunidade acadêmica no mesmo período. 


No Brasil:
     Principalmente em São Paulo, mulheres de periferia, através das comunidades da Igreja Católica reivindicam ao Estado o atendimento das necessidades básicas como creches, melhores salários, reclamam do custo de vida e unem-se contra a carestia. A reivindicação pelas creches era apontado como um dos principais problemas pois as mulheres precisavam trabalhar fora, para manter a família (Teles,1993). É claro que estas reivindicações propiciaram não só mudanças de mentalidades como também  mudanças no espaço urbano.


“movimento de mulheres nos anos setenta trouxe uma nova versão da mulher brasileira, que vai às ruas na defesa de seus direitos e necessidades e que realiza enormes manifestações de denúncia de suas desigualdades”.


     Os movimentos de mulheres se especificam em relação a  outros 
movimentos ao proporem uma nova articulação entre a política e a vida cotidiana, entre esfera privada, esfera social e esfera pública. Ou seja, a mulher ao emergir da esfera privada para reivindicar  na esfera pública também torna-se visível na esfera social, onde os limites entre o público e o privado tornam-se confusos.

      O crescimento expressivo da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro a partir dos anos setenta é apontado por Bruschini (1994:179) como “uma das mais marcantes transformações sociais ocorridas  no país”.


     Para Celi Pinto (1992) é através dos movimentos sociais que se constituem no interior da sociedade civil que a mulher aparece enquanto sujeito. O movimento feminista não é necessariamente reivindicatório, isto é, pode não se organizar a partir de demandas específicas ao Estado. O movimento feminista constitui-se em torno de uma condição de exclusão dispersa e onipresente.
     Assim, a partir da década de oitenta reafirma-se a necessária heterogeneidade das experiências a partir da relação de gênero. E as pesquisas passam a  apontar também o carácter relacional entre os sexos que é construído socialmente a partir de relações de poder e consequentemente apresentam hierarquias que conduzem à desigualdade social. Não basta estudar as mulheres é preciso estudar as relações sociais entre os sexos.
    Os movimentos de mulheres no Brasil são heterogêneos e não possuem uma linearidade. As diferentes abordagens para  movimentos  diferentes indicam que o movimento de mulheres apresenta diferentes matrizes.  As formas de ação e os objetivos dos movimentos variam conforme o país, a região, a classe e raça dos sujeitos atuantes.
     A crise econômica e o desemprego podem ser apontados como fatores de desmobilização. O país parece enfrentar um processo de descrença que impede grandes mobilizações populares. Mas não podemos deixar de mencionar que embora a mulher esteja participando ativamente no mercado de trabalho as relações sociais  ainda são marcadas por relações de gênero. Trabalhadores e trabalhadoras são inseridos no mercado de trabalho marcados por desigualdades atribuídas ao sexo. A diferença salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função é cada vez maior no País. Em recente  pesquisa o Ministério do Trabalho constatou que as mulheres estão recebendo em média dois terços do salário dos  homens em todos os setores da economia (Ministério do Trabalho – Caged/Fat, 1996).
     Os movimentos sociais abrangem, hoje, realidades diversas. Consideramos que os movimentos de mulheres ou feministas (que não são necessariamente compostos apenas por mulheres) tornam-se movimentos sociais atuantes quando identificam formas de opressão que extrapolam as relações de produção e abrangem questões mais amplas como meio ambiente qualidade de vida, cultura patriarcal, desigualdades de gênero e outras que questionam os paradigmas  sociais vigentes.
     O estudo desses movimentos apontam para uma abordagem mais específica. Buscando a heterogeneidade através de uma análise empírica qualitativa, identificando os sujeitos envolvidos no movimento, suas práticas de ação e seus objetivos. O que não significa desconsiderar as restrições estruturais e conjunturais sofridas por esses sujeitos.


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